Neste ano de 1984, o Produto Interno Bruto do País, puxado pelas exportações, seguramente apresentará um crescimento que pode até mesmo superar a 1%, mas o mercado interno, indicador real do nível de atendimento das necessidades dos consumidores, permanece em recessão. Segundo dados do Conselho de Desenvolvimento Comercial do Ministério da Industria e do Comércio, a atividade comercial, que sozinha responde por 17% do PIB, registrou, no primeiro semestre deste ano, um declínio acumulado de 10.8% em relação ao primeiro semestre de 1983, um ano em que as coisas já não iam tão bem.
O processo de ajustamento econômico a que o Brasil foi submetido nos últimos anos, embora necessário, poderia ter sido realizado de forma muito menos traumática, caso as autoridades econômicas tivessem demonstrado maior habilidade em negociar e planejar metas mais realistas. Sem isso, a política econômica do governo acabou por provocar uma redução generalizada do poder de compra da sociedade através de uma forte redução dos salários reais, especialmente da classe media, e de um brutal aumento do desemprego, que apenas não se refletiu em desdobramentos sociais e políticos maiores graças ao enorme desenvolvimento do setor informal da economia.
Este processo tem necessariamente de ser revertido e a recuperação da econômica terá de ser obtida simultaneamente à recuperação do poder de compra dos brasileiros e à normalização de todo o comércio interno. O próprio governo usou a justificativa do combate inflacionário para propor a redução salarial, argumentando, inclusive, que os salários reais não cairiam porque seriam acompanhados de uma trajetória de preços declinantes. No entanto, o que se viu foi a deterioração do poder aquisitivo dos assalariados e que, se num primeiro momento chegou a ser visto com certo alivio pelas empresas pela diminuição de custos, chega agora preocupante em face de redução do mercado interno que proporcionou. Hoje, decorridos dois anos e meio de políticas salariais contencionistas, os próprios empresários parecem compreender que a recuperação econômica é muito frágil quando sustentada apenas nos mercados de exportação, ainda que este esteja crescendo a taxas excepcionais, não se pode pensar em voltar aos níveis anteriores de produção sem a recuperação do mercado interno.