A finalidade deste documento é demonstrar a existência e a viabilidade de uma política alternativa de desenvolvimento econômico que, em face das atuais restrições, apresente resultados mais favoráveis no médio prazo.
Considerando que: a) as atuais restrições ao crescimento residem basicamente na política econômica recessiva, posta em prática no final de 1980; b) a aplicação dessa política vem apresentando conseqüências bastante negativas em termos da produção industrial e do nível de emprego; c) o atual quadro econômico pode ser agravado pela existência de elementos potenciais de ruptura com o aprofundamento da crise do setor externo, a perspectiva de eclosão de crise financeira no setor público e a situação de pré-insolvência de parte do setor privado; d) internamente, as políticas restritivas são a contrapartida direta da renegociação dos débitos externos ora praticados; e) após 2 anos de recessão econômica, os resultados dessa política são insatisfatórios diante dos custos sociais incorridos.
Impõe-se a elaboração de uma proposta alternativa de política econômica, que pense necessariamente na resolução do problema em duas frentes. Em primeiro lugar por uma renegociação dos termos dos acordos estabelecidos com os credores externos e com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em seguida, a partir de um melhor equacionamento do problema externo, pela adoção de políticas internas favoráveis à retomada da produção e do emprego.
A proposição de tal plano não ignora as dificuldades externas do País, nem tampouco os aspectos internos que fatalmente surgirão com as mudanças necessárias para viabilizá-lo. No entanto, parte da convicção de que o impasse atual exige alternativas.
Proposições de Política Econômica Dentre as proposições de política econômica, proponho no plano externo o reescalonamento total dos pagamentos de amortizações e juros já vencidos e que deverão vencer nos próximos três anos de forma a obter maior alivio nas condições de pagamentos. Paralelamente às negociações deveriam ser adotadas as seguintes medidas: desenvolvimento de um sistema de consultas com os principais países latino-americanos; implementação de acordos bilaterais de comércio destinados a garantir importações; estabelecimento de um criterioso controle quantitativo e setorial das importações; elaboração e implementação de uma política de emergência de substituição de importações; desenvolvimento de políticas setoriais de promoção de exportações.
Já no plano interno, as mudanças na política econômica teriam o objetivo de substituir a inibição das atividades produtivas – que hoje ocorre através da política monetária restritiva e de juros elevados – por uma política de recuperação do nível geral da produção, mantendo a inibição sobre os setores importadores através da política fiscal. O objetivo seria induzir a recuperação em setores pouco dependentes de importações, bem como nos setores destinados a substituir importações ou promover exportações.
Nesse contexto, o objetivo da política monetária seria permitir a recomposição dos níveis de liquidez real de forma a permitir a substancial queda nas taxas de juros. Outro fator de grande importância seria a revisão dos critérios de fixação da correção monetária, com a inclusão de um fator de desindexação de 10 a 20% a.a. sobre o Índice Geral de Preços. No tocante à política fiscal, essa substituiria o atual papel inibidor das taxas de juros, por uma política de maior incidência tributária setorial. Além disso, são propostas medidas saneadoras destinadas a reduzir a diferença entre a carga tributária bruta e liquida, com a diminuição de subsídios, de forma a garantir a gradual redução do déficit fiscal. Considera-se também prioritário o atendimento dos problemas financeiros mais imediatos dos estados e municípios, através de transferências e ampliação dos limites de crédito.
Quanto às empresas estatais, propõe-se que o ajuste deva ser feito principalmente nos gastos em custeio, de forma a preservar o nível de investimentos. Para que isso se torne possível, seria necessário que tais empresas passassem a ter nos seus respectivos conselhos de administração, representantes de setor privado e dos órgãos legislativos, como forma de fiscalizar a aplicação dos recursos a elas destinados.
Considerações gerais sobre a crise Passado o período de crescimento acelerado (1968 a 1974), a economia brasileira vem sendo submetida a sucessivos fatores recessivos. Entre os principais elementos está o esgotamento dos fatores dinâmicos existentes no período anterior. A liderança da expansão naquele período coube aos vultosos investimentos destinados à implementação de novos setores industriais no País, processo este que chega a sua quase conclusão em meados dos anos 70. Desta forma, a crise que se instala na economia brasileira tem sua principal origem nestes fatores de exaustão mais do que naqueles oriundos de choques externos. Estes últimos, no entanto, também foram responsáveis pela crise que se sucedeu, principalmente tendo em conta o caráter recessivo das medidas de controle do déficit comercial.
Entre os elementos de origem externa, destacam-se como principais: a perda de dinamismo das economias industrializadas, o que resultou em acentuada retração do comercio internacional; a deterioração das condições de intercambio, determinadas pela elevação dos preços das matérias primas e produtos importados (preponderantemente petróleo e seus insumos) e mais recentemente, pela queda nas receitas de exportação, provocadas pela retração no volume exportado e nos preços recebidos; o crescente estrangulamento cambial e elevação do endividamento externo, que já se tornavam graves durante a fase de 1974 a 1979, coincidente com o período de ajustamento à primeira crise do petróleo. Por fim, o segundo choque externo determinado pela nova elevação dos preços do petróleo em 1979 e elevação substancial das taxas de juros internacionais, resultando em deterioração ainda maior das relações de troca e aprofundamento da asfixia cambial.
A política econômica do governo, procurando reagir a estes determinantes de ordem externa, ligados à perda de capacidade de importar e visando controlar o déficit do balanço de pagamentos, bem como combater o recrudescimento inflacionário que começou a se manifestar ainda em 1973, tornou-se preponderantemente restritiva, com exceção de alguns períodos de descompressão.
Dentro desta ótica, o II PND representou o último pacote de investimentos voltados para a implantação de novas indústrias, premido pela necessidade de substituição de importações após a primeira crise do petróleo.
Os demais períodos de relativa folga de liquidez, dentro do quadro mais geral de restrição econômica, ocorreram, com exceção de 1980, devido a determinantes políticos que normalmente precedem aos períodos eleitorais. Apenas em 1980 é que a mudança na política econômica chegou a configurar-se numa opção de mudança da política restritiva para uma política de crescimento, embora os resultados tenham sido lamentáveis, com uma expansão descontrolada que chegou a ameaçar nossa credibilidade externa, dado o agravamento do déficit da balança de pagamentos. Os resultados desastrosos da política econômica naquele ano devem ser creditados à prefixação das correções cambial e monetária muito abaixo da inflação, e à falta de um ajustamento mais adequado por parte do governo, no sentido de tentar controlar e dirigir o crescimento para setores menos dependentes de importações.
Restrições atuais ao crescimento As atuais restrições ao crescimento residem basicamente na política econômica recessiva, posta novamente em prática pelo governo, após o fracasso da experiência de 1980. Naquele ano, a euforia de crescimento e o conseqüente déficit em conta corrente abalaram nossa credibilidade externa e fomos obrigados a negociar uma política restritiva em troca de novos financiamentos. A situação continuou agravando-se com a crise da Polônia, a guerra das Malvinas e a crise de confiança no mercado financeiro internacional, provocada pelas dificuldades financeiras do México. Com a retração do mercado financeiro internacional houve rápida perda das reservas internacionais, utilizadas para compensar a redução dos créditos de curto prazo, ficando o País à mercê dos credores e das imposições do FMI.
As condições clássicas impostas pelo acordo com o Fundo Monetário interessam particularmente aos banqueiros, mas estão se mostrando totalmente insatisfatórias para o Brasil. Isso porque a situação internacional mudou completamente em relação à época em que tais políticas foram formuladas. O mundo, hoje, assiste a uma recessão generalizada com o acirramento do protecionismo, guerra cambial, etc.. Além disso, este tipo de política afeta todos os setores da economia de forma generalizada, quando o problema maior consiste na necessidade de ajustar estruturalmente a produção e o consumo às novas condições criadas pela crise do petróleo. Juntam-se a esses fatores o atual sistema das taxas flutuantes de câmbio e uma política de exportação baseada em desvalorizações cambiais, subsídios e incentivos generalizados cada vez menos eficientes; Nesse contexto de estancamento dos investimentos, a estrutura industrial brasileira está se tornando obsoleta e tecnologicamente defasada, o que poderá comprometer em longo prazo qualquer política de exportação. E por fim, a recessão não está provocando os reajustes estruturais no perfil da produção e do consumo com a velocidade requerida pelas restrições externas.
Face a esses elementos, pode-se concluir que, manter essa política, sem tentar um acerto em bases mais satisfatórias, significará colocar o País frente a uma grave crise social e provocar sérios danos ao parque industrial. Isto porque, a atual política econômica, implementada no final de 1980 e reforçada com o recente acordo com o FMI, subordina tudo o mais ao único objetivo de equilibrar as contas externas.
Conseqüências concretas do acordo com o FMI Os aspectos concretos das medidas acertadas com o FMI envolvem uma política monetária contracionista e uma política fiscal também restritiva, com o objetivo de provocar a redução no dispêndio interno, de forma a diminuir as importações. A política monetária contracionista caracteriza-se principalmente pela queda real dos meios de pagamentos, resultando em imediata elevação das taxas de juros. No caso brasileiro, esta elevação tornou-se maior, devido ao controle quantitativo de credito bancário que acabada por limitar a concorrência entre os bancos.
O aumento da receita tributaria e o corte nos dispêndios públicos configuram a ação de uma política fiscal restritiva, em vigor há algum tempo. No entanto, fatores como a resistência à redução nos gastos de custeio e as eleições do ano passado, impediram que o governo promovesse cortes drásticos nas suas despesas, embora já estivesse ocorrendo queda nos investimentos públicos.
Após o acordo com o FMI, em fevereiro, o Executivo comprometeu-se a reduzir a participação do déficit público no Produto Interno Bruto (PIB), de 16.9% em 1982 para 8,8% no corrente ano. Isto implica, portanto, numa política fiscal mais rígida e austera, com previsíveis efeitos recessivos sobre a atividade econômica.
Os resultados de mais de dois anos desta política econômica são insatisfatórios diante de seus custos. As importações efetivamente foram reduzidas, mas a custo de um declínio acentuado da produção industrial que se prolonga até hoje. Em dezembro de 1982, de acordo com os dados do IBGE, o valor da produção industrial havia retornado aos níveis de 1978. A retração do emprego foi maior ainda, pois segundo informações do IBGE, o número de pessoas ocupadas no setor industrial em dezembro de 1982 era inferior ao nível médio existente durante o ano de 1976.
Apesar da gravidade da situação econômica, nada indica que a economia deverá se estabilizar neste nível reduzido de produção. Pelo contrário; existem alguns elementos potenciais de ruptura que podem provocar um sério agravamento da atual situação. Entre esses elementos estão: a) o eventual aprofundamento da crise de liquidez do setor externo, que pode dificultar a renegociação de novos recursos e mesmo inviabilizar o esforço de “rolagem” da divida de curto prazo; b) a perspectiva de eclosão de uma crise financeira no setor público, especialmente nos estados e municípios, na medida em que a crise econômica e as condições exigidas pelo FMI impedem eventuais soluções; c) a situação de virtual pré-insolvência de parte das empresas privadas, devido à retração econômica e às elevadas taxas reais de juros; d) a instabilidade social provocada pelos altos índices de desemprego, que já atinge proporções de extrema gravidade.
A partir das considerações anteriores, da constatação de que a recessão continua grave neste inicio de ano e de que os elementos de ruptura acima enunciados podem evoluir criando uma grave situação de instabilidade econômica e social, cabe discutir a possibilidade de alternativas para contornar esta situação.
Uma proposta de curto prazo O objetivo principal de uma política de emergência a ser implementada a curto prazo, por um período aproximado de 3 anos, é o de evitar a crise social implícita na continuidade da atual política econômica. O País não poderá ficar indefinidamente à espera dos frutos da recuperação internacional, sobretudo quando não se conhece sua provável intensidade, pois isso significaria ter que enfrentar uma maior deterioração das condições internas por tempo indeterminado.
A proposta de um plano alternativo surge justamente da convicção de que o atual estágio recessivo ainda não se encontra estabilizado, podendo vir a ocorrer maiores declínios do nível da atividade econômica.
A proposição de tal plano não ignora as dificuldades externas do País, nem tampouco as consequências internas que fatalmente surgirão com as mudanças necessárias para viabilizá-lo. No entanto, temos a convicção de que o momento exige maior criatividade, pois a situação é inusitada. Não podemos simplesmente deixar de considerar alternativas, pela suspeição de que seus custos sejam mais elevados do que os custos atuais. Na verdade, ainda não promovemos todos os ajustes exigidos pelos credores internacionais, os quais, se tiverem de ser realizados, implicarão em custos superiores aos que hoje enfrentamos.
A implementação de uma política alternativa para a economia brasileira passa necessariamente pela resolução do problema em duas frentes. Em primeiro lugar, temos que renegociar os termos do acordo estabelecido com os credores externos e com o FMI, no sentido de recuperar as condições de autonomia na condução de política econômica. Em segundo lugar, a partir do melhor equacionamento do problema externo, devemos adotar políticas internas favoráveis à retomada das atividades econômicas.
A reversão da tendência recessiva requer mudanças em aspectos básicos da atual política econômica, visando tanto conter a queda do nível de atividades como de retomar, no curto prazo, as condições de crescimento. Não se espera, no entanto, a obtenção de taxas de crescimento elevadas num primeiro momento, dadas as restrições externas que ainda continuarão presentes. A obtenção de taxas de 3% a 4% a.a. já seria bastante satisfatório, até que fossem criadas condições para o restabelecimento, a médio e longo prazo, do crescimento potencial do PIB brasileiro, por volta de 7% a.a..
Proposições de Política Econômica
A. Alternativa para o problema externo. A principal definição para o encaminhamento de soluções para o problema externo diz respeito à necessidade de uma solução política do problema, pois sua magnitude assume proporções que tornam sua administração absolutamente inviável, face à atual conjuntura de estagnação econômica internacional. Nesse aspecto, deveríamos obter junto aos credores externos condições de reescalonamento dos débitos em bases mais satisfatórias para o País.
Considerando que o atual esquema de financiamento no mercado financeiro internacional não garante a reciclagem dos débitos em condições aceitáveis para os países altamente endividados e que existem claros indícios de que uma ruptura pode vir a ocorrer, torna-se fundamental o estabelecimento de formas alternativas de financiamento.
As propostas que se seguem, decorrem da crença de que a partir do modo como as coisas estão sendo encaminhadas, mesmo que tudo corra bem, o equilíbrio permanecerá precário por muitos anos; e da necessidade de se conseguir espaço suficiente para o planejamento interno.
Em resumo, as gestões junto aos credores privados e governos deveriam conter os seguintes pontos:
1. Reescalonamento total dos pagamentos de amortizações e juros já vencidos e que deverão vencer nos próximos 3 anos, tanto na dívida de longo como na de curto prazo, de forma a obter um maior alivio nas condições de pagamentos externos e afastar a possibilidade de uma moratória. No que se refere à dívida de curto prazo, estabelecer gestões junto ao FMI e os governos no sentido de obter créditos que permitam transformá-la em dívida de longo prazo. Estamos conscientes das dificuldades que se interpõem a esta tentativa, porém diante da perspectiva de inadimplência generalizada, devemos forçar o sistema financeiro internacional a uma mudança institucional.
2. Estabelecer junto aos organismos governamentais e multilaterais de financiamento, condições de obtenção de novos créditos durante esse período, de forma a garantir as importações necessárias para viabilizar uma política interna de crescimento moderado.
3. Durante estes três anos, o Brasil garantiria o equilíbrio da balança de pagamentos em conta corrente, ou seja, a obtenção de um superávit comercial, que, somado ao investimento externo liquido, seja compatível com a necessidade de recursos para cobrir o déficit da conta de serviços. Os superávits obtidos nesta conta durante o período seriam utilizados para a recomposição do nível de nossas reservas internacionais. Esta fixação de metas baseia-se no pressuposto de que um esforço de redução no nível do endividamento externo só poderá ser realizado dentro de um contexto de recuperação econômica internacional e após a realização dos ajustes necessários em nossa economia.
Paralelamente às negociações a serem desenvolvidas junto aos credores, o governo deveria adotar as seguintes medidas complementares:
• Manter um sistema de consultas com os principais países latino-americanos sobre o processo de reescalonamento dos débitos. Estreitar os laços políticos com esses países visando implementar acordos bilaterais de comercio, de forma a garantir o abastecimento de matérias primas. Do mesmo modo, o País procuraria incrementar os acordos bilaterais com todos os países, notadamente aqueles que também estão em dificuldades, procurando estabelecer condições para troca diretas, visando garantir o fornecimento de matérias primas, principalmente petróleo. • Estabelecer um criterioso controle quantitativo e setorial de importações, que garanta a compatibilização entre o volume de exportações e as metas da balança comercial. Este controle difere da restrição generalizada que ora vem sendo praticada por ser seletivo e compatível, portanto, com o esforço de substituição de importações e promoção seletiva de exportações. • Estabelecer imediatamente e de comum acordo com o setor privado, uma política de emergência de substituição de importações, visando atenuar os problemas que a restrição externa possa trazer ao desenvolvimento do parque industrial. • Estabelecer políticas setoriais de promoção de exportações de forma a viabilizar receitas de exportação destinadas a garantir um mínimo de importações. • Pressionar os bancos centrais dos países credores para que absorvam parte de nossos déficits junto aos bancos privados desses países, transformando-os em créditos governamentais, com prazos mais longos e juros mais baixos.
A característica fundamental desta proposta alternativa de renegociação é a de permitir ao final de três anos, maior equilíbrio em nossas relações comerciais com o exterior. O equacionamento do problema externo tornar-se-á base essencial de um programa de redução no nível de endividamento que a partir de então será realizado, onde o superávit comercial mais os investimentos externos líquidos deverão ser suficientes para cobrir não apenas o déficit de serviços, mas também para o pagamento de uma parcela dos juros devidos.
B. As mudanças na política econômica interna A resposta básica a ser obtida das mudanças na política econômica interna deverá ser a recuperação da produção e do investimento no setor privado, ainda que essa recuperação não possa ocorrer de forma generalizada devido às restrições às importações. Dessa forma, essas mudanças deveriam induzir a recuperação em setores pouco dependentes de importações, nos setores destinados a substituir importações ou promover exportações.
A forma como esse objetivo deve ser atingido implica em modificações na política fiscal e monetária. Isso porque, com a atual política monetária, baseada na restrição de liquidez real, inviabilizam-se todas as alternativas produtivas, criando assim condições para o acirramento do problema do desemprego. Para se evitar esse tipo de reação indesejável, é preciso substituir a atual política monetária de juros elevados, que significa na prática a ausência de planejamento, por uma política seletiva de redirecionamento industrial, que atinja apenas os setores mais dependentes de importações.
C. Aspectos básicos da política econômica O objetivo básico da nova política monetária seria o de permitir uma relativa recomposição dos níveis de liquidez real. Essa iniciativa visa uma queda substancial dos juros internos de forma a estimular as atividades produtivas. Considera-se que, se num primeiro momento, os juros reais declinassem dos atuais patamares de 30% a 40% a.a. para níveis de 10% a.a, já haveria condições para se obter uma resposta positiva do setor produtivo. E, à medida que os fatores de estrangulamento externos fossem superados, haveria espaço para novas reduções nas taxas de juros. Paralelamente a essa medida, os critérios para a fixação da correção monetária – que hoje se encontra “colada” à inflação – teriam que ser revistos. D. Diretrizes gerais da política fiscal A política fiscal deverá, num primeiro momento, ser objeto de algumas modificações destinadas a elevar o montante global de arrecadação, tal como já vem sendo feito. Essa elevação de receitas deveria ser acompanhada de medidas de austeridade nos gastos públicos de forma a se obter uma gradativa redução do déficit global do setor público.
Acreditamos que a principio, a preocupação maior deva ser a de substituir a inibição generalizada das atividades econômicas, que hoje é conseqüência dos juros elevados, por uma política de incidência tributaria setorial, destinada a conter a produção e a demanda de bens duráveis, em níveis compatíveis com as restrições de importações. Esse efeito poderia ser obtido pela substancial elevação das alíquotas do IPI sobre bens de consumo duráveis, ao mesmo tempo em que seriam reduzidas as alíquotas incidentes sobre os bens de consumo populares que se pretende estimular.
Outro aspecto que permitiria a elevação da receita seria a diminuição dos subsídios fiscais, além do estudo de novas formas de tributação sobre os ganhos de capital.
Um dos objetivos da elevação da arrecadação seria o de permitir maior flexibilidade no manejo da política tributária de forma a estimular a produção, como, por exemplo, a redução das alíquotas de IOF sobre as operações de crédito.
Além disso, caberia estudar novas formas de capitalização das empresas estatais, aumentando sua eficiência na geração de recursos próprios a fim de reduzir as pressões sob a forma de transferência do Tesouro Nacional.
Acreditamos que o ajuste das empresas estatais deva ser feito principalmente nos gastos em custeio, de forma a se preservar o nível de investimentos. Para que isso se torne possível, seria necessário que tais empresas passassem a ter nos seus respectivos conselhos de administração, representantes do setor privado e dos órgãos legislativos, para melhor fiscalizar a aplicação de recursos.
Finalmente, o Governo Federal deverá possibilitar no curto prazo, aportes adicionais de recursos aos estados e municípios que estão com maiores dificuldades, tanto sob a forma de maiores transferências, como de ampliação de limites de crédito.
Alternativas de Longo Prazo Ainda que seja difícil pensar em alternativas de longo prazo num mundo em recessão, dado a ausência de perspectivas mais seguras sobre o comportamento da economia internacional, essa discussão faz-se necessária no sentido de explorar as possibilidades do País frente aos desafios futuros.
Nosso país possui dimensões continentais, o que lhe garante amplas possibilidades de exploração de recursos naturais, que, aliado ao nosso parque industrial e à grande oferta de mão-de-obra, permite pensar em bases mais otimistas quanto às suas potencialidades. Talvez sejamos um dos poucos países que apesar do elevado endividamento externo, tenha condições de pensar em desenvolvimento e crescimento na atual crise internacional.
O primeiro aspecto que vem a tona quando se analisa a economia numa perspectiva de longo prazo, diz respeito à necessidade de se promover uma reforma institucional nos mecanismos de expansão e de financiamento do crescimento, dentro de uma ótica desenvolvimentista.
Assim, com a crise econômica, e com o esgotamento dos fatores de dinamismo da fase anterior, é preciso criar novas bases para a expansão. No entanto, todo o arcabouço institucional criado no período pós 64, com as grandes reformas dos Ministros Campos e Bulhões, tornou-se obsoleto, impossibilitando a criação de condições propicias à retomada. Além desses aspectos, existe o problema externo que não se resolve devido à inadequação das medidas clássicas propostas pelo FMI.
Nesse sentido, é preciso que toda a política econômica, incluindo o sistema monetário e financeiro, além da política tributária, seja orientada de forma a se adaptar às novas condições e sustentar uma nova forma de expansão econômica.
Um dos aspectos básicos dessa nova política econômica, é que a expansão da demanda interna não deverá mais ser comandada pela implantação de novas indústrias, mas sim pela expansão da atual estrutura industrial que já se encontra na sua forma final. No entanto, o alargamento das condições de consumo, baseadas no consumo de massas e no desenvolvimento do mercado interno, necessita de condições institucionais para viabilizá-lo.
Nesse aspecto, os instrumentos de acumulação utilizados no passado tornam-se inadequados. O sistema de incentivos e subsídios criados na fase anterior de expansão perdeu sua razão de ser, bem como a inflação perdeu sua funcionalidade como forma de redução dos salários reais.
No caso da inflação, a perda de controle e o ingresso do País num processo de hiperinflação apenas agudiza a crise social, convertendo-se em permanente foco de tensões, dado seus efeitos propagadores, que convertem os choques inflacionários em elevações do patamar inflacionário. Além do mais, com o amadurecimento da consciência política dos trabalhadores, proporcionada pelo próprio processo de urbanização na fase acelerada de crescimento, as relações capital-trabalho precisam ser repensadas e traduzidas numa política salarial satisfatória. Não será apenas arrochando salários que nos tornaremos uma grande nação industrializada. A industrialização baseada no mercado interno requer o crescimento paralelo do poder aquisitivo para sua efetivação, tal como já ocorreu em épocas anteriores nas economias desenvolvidas.
Nesse sentido, é preciso pensar em uma nova política industrial e tecnológica que possa expandir e elevar a eficiência das indústrias já instaladas no País, bem como criar condições de competição entre os setores industriais, para que os frutos do progresso técnico possam resultar em menores preços aos consumidores, sem que isso venha a representar redução da taxa de lucro.
Finalmente, é preciso pensar em retomar a médio e longo prazo as condições de plenitude do comércio internacional, para que o País possa aproveitar-se das vantagens da especialização mundial da produção. No entanto, para que isso seja possível, torna-se essencial a clara definição de uma política voltada para o setor externo visando desenvolver setores exportadores e uma tradição de comércio internacional mais estável. A possibilidade do país se integrar ao fluxo do comércio internacional, assim que houver uma retomada do nível de crescimento das economias desenvolvidas, é uma realidade, e não podemos deixar que a momentânea asfixia cambial nos tire as vantagens já acumuladas. Nesse sentido, a manutenção de um nível mínimo de atividade voltada para o mercado interno, num momento de crise, torna-se essencial para que não venhamos a retroceder do atual estágio em que nos encontramos.